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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O mar

Eu me lembro bem de quando era criança. Morava numa casa de janelas pequenas e não entendia por que não eram maiores, já que a vista era uma bênção divina: todo aquele mar batendo nas rochas lá embaixo... Tinha também um descampado, onde todas as crianças da redondeza se juntavam para jogar futebol, empinar pipa, brincar de polícia e ladrão.
Era uma vida gostosa, aquela. Não havia compromisso com nada e o meu mundo era aquele descampado de terra batida. “Procure emprego!” Vá trabalhar, vagabundo!”, “A vida não é só futebol!” Esse mundo não é o que conheço! Me deram um emprego que eu tinha que ficar em pé calçado e abotoado até o pescoço. E a liberdade? Liberdade é ter emprego de poste?
Voltei para o meu canto. Não era o mesmo. Não era mais meu. Uns homens tomaram conta do meu descampado, da minha casa. Disseram para voltar lá para baixo vender uma poeira branca e mandaram experimentar, afinal não poderia vender uma mercadoria sem conhecê-la. Fiquei sem fome, excitado e com muita, muita força.
Enquanto descia, a felicidade foi sumindo. Meu corpo já não era mais aquela fortaleza. Não podia trabalhar desanimado e faminto. Abri um dos saquinhos e enfiei no rosto. A sensação desta vez não foi a mesma. A realidade pesou nos meus ombros. Percebi que tudo o que eu queria era não ter perdido a minha criança. Parei. Havia um jeito de resgatá-la. Era só atravessa a rua.
O mar... Tão belo, tão atrativo. Seu canto era um convite ao seu encontro. Não tive dúvidas: pulei.

Um comentário:

  1. Muito bonito o texto...

    O mar...tão atraente que chama as almas para dentro de si. Conheço a sensação.

    um beijo do leitor

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