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Profundo. Olhos negros. Escuro ensurdecedor. Mamãe: mania de fechar a janela com blackout pra ajudar os anjos a se aproximarem de você, meu amor! Escuro.

Escuro eram meus pensamentos naquela noite em que me encontrei com Júlio Alberto. Por que dois nomes fortes numa pessoa? A vida de Júlio Alberto era desarmônica como seu nome.

Você demorou, Estela... Você parece ter prazer em me deixar plantado nas portas dos bares te esperando... Diga algo! Seu silêncio me irrita, Estela...

Dois chopes com pouco colarinho, Germano! E traga também uma porção...

...de pastel

Pastel?

Tô afim.

Qual a graça de pastel?

Tô afim. Você nunca sabe o quê pedir para comer.

Mal conseguia encarar Júlio Alberto. Seu rosto me enojava.Seu hálito, me enjoava. Sua voz, asco. Só conseguia pensar num modo de sair daquele inferno. Por que não ia embora? Por que não tirava aquele homem definitivamente da minha vida?

A mulher quando ama, vive em função de.

Tinha medo de viver sem. Mas ora. Ele trazia apenas dúvidas... Infortúnios aliados ao menosprezo.

Por que não ia embora?...

A luz incomoda minhas retinas. Você só enxerga aquilo que te interessa. Linguagem de videoclipes.

Escuro.

Abri as cortinas. O sol penetrou meus olhos, rasgando-os com fúria demoníaca.

Come um pastel. Estela! Assim esfria. Ontem conversei com Murilo! Ele chega amanhã. Iremos ao jogo.

Quero sair daqui, Júlio! Preciso sair daqui!

Você nem comeu o pastel. Que merda, Estela! A grana tá curta e você me faz gastar ela à toa!

A música do silêncio. Essa é a minha preferida. A mente trabalha, trabalha e a música silenciosa inunda meus pensamentos.

Escuro.

A rua sem iluminação bloqueia meu pensamento. Não meus atos.

O rosto desfigurado de Júlio Alberto revelava o horror daquela noite. Escarrei em sua boca...

Mamãe e sua mania de fechar a janela com blackout pra ajudar os anjos a se aproximarem de você, meu amor!